Desenhos da natureza
O município conhecido como “paraíso do ecoturismo” está em uma região privilegiada pela natureza: é rico em nascentes, oferece muitas cachoeiras, é banhado pelo rio Grande e guarda em seus domínios vastas extensões do Parque Nacional da Serra da Canastra, além, é claro, de valioso acervo da biodiversidade do cerrado.
Reportagem Cacaio Six
Fotos Eduardo Gontijo
Do alto dos chapadões a vista alcança
longe, pois para muito além dos planaltos parece não ter fim a paisagem
que se alonga em várias tonalidades de verde até os limites do céu azul.
Talvez porque seja outono e a passagem de uma chuva rápida, mas forte —
incomum para esta época do ano — refrescou o tempo ao lavar o clima;
tudo ao redor, muitos quilômetros quadrados em volta, está límpido — o
ar, a água, a vegetação do cerrado de instigante e ao mesmo tempo
misteriosa beleza.
Esta região, chamada de Nascente das
Gerais, nome de um circuito turístico, é privilegiada por ter a dádiva
de ser banhada pelo rio Grande e ainda por fazer brotar dos mais
profundos lençóis d’água o grandioso — porém sofrido e maltratado, mas
ainda redentor — rio São Francisco, o “Velho Chico”.
Nascente das Gerais é, não há dúvida, um
bom nome para identificar essas terras que abrigam muitas belezas e uma
série de paradisíacos recantos entre as serras da Canastra e da
Babilônia.
“Paraíso do ecoturismo”
Em uma área de 1.171 km² desta parcela sudoeste de Minas entre a represa de Peixotos, no rio Grande, e a Serra da Canastra, a 411 km
de Belo Horizonte, estão os domínios do município de Delfinópolis, não
por acaso conhecido como o “paraíso do ecoturismo”. Os vários atrativos
desta pequena cidade — pouco mais de 8 000 habitantes — que no ano de
1919 ganhou o nome em homenagem ao então governador (na época presidente
de Minas) Delfim Moreira, justificam a alcunha.
Numa magnífica paisagem típica do
cerrado, esculpida por serras — como a Preta, a Branca, do Cemitério, do
Caminho do Céu, da Gurita, a Grande, a de Santa Maria e da Babilônia —
chapadões e vales brotam uma fartura de nascentes, piscinais naturais,
fontes termais e nada mais nada menos do que cerca de 150 cachoeiras dos
mais variados formatos, Alturas e tamanhos, porém com uma
característica em comum: as águas são invariavelmente límpidas e
transparentes. É bom lembrar que o Parque Nacional da Serra da Canastra
tem uma grande área dentro dos limites de Delfinópolis — o que configura
mais um importante atrativo turístico.
Trilhas a desbravar
Um dos acessos à cidade não deixa de ser
outra atração: é preciso atravessar o rio Grande por meio de uma balsa,
que funciona 24 horas, numa curtíssima viagem de quinze minutos. A
outra forma de acesso é via o caminho conhecido como Estrada Ecológica.
Uma vez dentro do município de vocação
ecoturística, são várias as opções de passeio em meio à natureza que
desenhou fascinantes paisagens.
Pra começar a aventura, primeira opção
pode ser desbravar as trilhas que se oferecem em diferentes graus de
dificuldade, todas dentro de fazendas — a maioria das propriedades
garante algum suporte para o visitante e também cobram pequenas taxas
pelo acesso — com nomes como Roladouros, Galheiros, Condomínio de
Pedras, Caminho do Céu, Chora Mulher, Pico Dois Irmãos, Monjolinho,
Chapadãozinho e Casinha Branca. Esta última é a mais conhecida por ser
de dificuldade média e ter 10 km
de extensão. Ao longo da caminhada no alto da Serra Preta, além do
lindo visual da Represa de Peixotos ao fundo, o turista vai poder se
esbaldar com as cachoeiras do lugar chamado de Complexo do Paraíso. São
deliciosas quedas d’água — como as cachoeiras do Triângulo, Borboleta,
Vai Quem Pode , Coqueirinho, Lambari e Paríso —, que formam generosos
poços para banhos.
Uma trilha mais desafiante, porém
repleta de indescritíveis cenários por cruzar uma região de rara beleza e
rica em biodiversidade, é a travessia à pé para a Casca d’Anta, a
deslumbrante cachoeira da nascente do São Francisco, cuja beleza
dispensa maiores comentários. São três dias de caminhada, um desafio que
vale muito a pena para quem ama a natureza.
Complexos de cachoeiras
Poucas cidades de Minas Gerais podem
oferecer tantas opções de cachoeiras tão agradáveis quanto Delfinópolis.
É impressionante a variedade assim como a transparência, limpeza e
frescor das águas. Elas estão em meio a vales, no meio das matas, entre
serras, nas chapadas e despencam de paredões. São tantas quedas d’água
que esses irresistíveis atrativos foram nomeados como complexos.
Mais próximo da cidade, a 1,5 km,
fica o complexo do Serro Alegre. São vários poços para banhos, além da
linda cachoeira. No complexo do Claro, a seis quilômetros, destacam-se
as cachoeiras da Paz, do Tom, da Cidade de Pedra e da Gruta. O lugar,
que cobra uma taxa dos visitantes, oferece estacionamento, pousada, área
para camping e lanchonete. As mesmas descrições valem para o complexo
do Paraíso, a 7, 5 km
de distância. Lá, o turista tem ao seu dispor uma pousada, uma
lanchonete e trilhas para ótimas caminhadas. Também é cobrada uma taxa
de visitação. Mais distante, a 32 km,
fica o complexo do Luquinha, um ótimo passeio para quem gosta de
dirigir pelas trilhas de terra que, aliás, são bem sinalizadas. Um
pousada no local atende quem desejar ficar um pouco mais para aproveitar
o sossego e as cachoeiras. Outro complexo interessante, este a 22 km,
é o de Maria Concebida ou Água Quente — por causa de um poço de águas
mornas. Chega-se de carro até dois quilômetros de distância (existe uma
área de estacionamento, outra para camping e banheiros) que precisam ser
percorridos à pé em uma trilha bem sinalizada.
Com boa infraestrutura para receber os
visitantes como pousada, restaurante, sanitários, as cachoeiras do Vale
do Céu, privilegiadas pela natureza, estão a 70 km
de distância. No lugar, que cobra taxa de visitação por pessoa, o
turista ainda tem ao seu dispor um auditório, um espaço para exposições e
ainda pode assistir produções de video com temas ligados ao meio
ambiente.
Outras cachoeiras que merecem todo destaque é a cachoeira do Ouro, a 33 km; de Santo Antônio, a 7,5 km; e do Zé Carlinho, a 26 km.
A primeira é considerada uma das mais bonitas de Delfinópolis pelo
volume d’água, por estar em meio à mata fechada e pela altura da queda.
Conta com estacionamento, lanchonete e é cobrada taxa de visitação.
A segunda possui um grande volume de
água que cai com muita força na represa. Não é propícia a banhos, mas o
visual é impactante. Já a terceira atrai pelo delicioso poço para
banhos. Uma casa serve refeições, e é possível conhecer o seu alambique
de cachaça artesanal, além de degustar a bebida. Um estacionamento
completa a estrutura de atendimento; paga-se a taxa de visitação.
Acervo de atrativos
Outro lugar que precisa ser conhecido é o
condomínio de Pedras no alto da Serra Preta: descrito como um dos
lugares mais belos da região, pois formações rochosas no meio do cerrado
foram esculpidas pelo vento durante milhões de anos. O cenário é de
puro encantamento. Para fechar o acervo de atrativos desta surpeendente
Delfinópolis, cidade “paraíso do ecoturismo”, vale a pena se aventurar
para conhecer as corredeiras do Rio Santo Antônio, localizadas no sopé
da Serra do Cemitério. Para quem gosta de praticar esportes de aventura
como rafting, boia-cross e canoagem, dentre outros, as condições são
muito boas.
É preciso, porém, muita atenção com a chuva. Se começar a chover, é fundamental se afastar das margens por motivo de segurança.
Além da encantadora flora do cerrado, a
região de Delfinóplis, sobretudo nos limites protegidos do Parque
Nacional da Serra da Canastra, oferece aos olhos do turista a
possibilidade de visualizar raros animais como o tamanduá-bandeira, o
lobo-guará, o veado-campeiro, o tatu-canastra, a jaguatirica e ainda
capivaras, lontras e macacos-prego. Das aves, é possível avistar — e se
deslumbrar — com a ema, o urubu-rei, a curicaca, os gaviões carcará e
carrapateiro, os tucanos e o raríssimo pato mergulhão.
É por estas tantas riquezas, resumidas
neste acervo natural de inestimável valor, que o município de
Delfinópolis pode se consagrar definitivamanente como um destino
turístico de alto valor agregado em todas as vertentes do ecoturismo.
(revista sagarana)
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