O violeiro e compositor Gustavo Guimarães sempre nutriu simpatia por
São Francisco de Assis. E explica: “Aquela figura carismática, de roupas
simples e rodeada por pássaros. E ouvia falar do Rio São Francisco, o
que reforçou essa referência”.
A tal simpatia ganhou contornos mais amplos quando ele, ainda
adolescente, assistiu ao filme “Irmão Sol, Irmã Lua” (1972), de Franco
Zeffirelli. Não bastasse, ele e a esposa, Maria Célia, ainda mantêm uma
coleção de imagens do santo em casa... “Então, resolvi estudar um pouco
mais sobre a vida e os ensinamentos dele e tive a oportunidade de
visitar Assis, na Itália, por duas vezes. Algumas passagens e ideias me
tocaram muito forte e me inspiraram a compor”. O resultado está em
“Canções de São Francisco”, CD lançado em 2015, com 14 músicas
inspiradas na filosofia e nas ideias do italiano.
Os ensinamentos de Francisco são ecumênicos e muito atuais, lembra
Gustavo. “Ele foi, muito provavelmente, um dos primeiros ambientalistas
e, já nos séculos 12 e 13, pregava o amor e o respeito à natureza e a
todas as criaturas. Sempre optou pela simplicidade e pelos mais pobres, e
pregou também o perdão, o desapego das coisas materiais e a
tolerância”.
Motivos pelos quais Gustavo acha que seus ensinamentos estão na ordem
do dia. “Todas essas questões são urgentes, hoje. Sua transformação teve
início após seu contato com o evangelho e acredito que através de suas
reflexões sobre a natureza e as questões humanas e existenciais, ele
ampliou a sua percepção de Deus, de si mesmo e do universo como um todo.
Sua experiência foi muito íntima, profunda e mística. Sua maior
descoberta é exatamente aquilo que a sua figura transmite: um amor
simples, humilde, paciente e perfeito”.
‘Carisma de Francisco inspira a arte’, diz violeiro
Gustavo Guimarães calcula ter mais de cem imagens do santo. “Na
verdade, Célia começou a coleção antes da minha chegada. Fomos
ampliando, comprando umas e ganhando outras. Temos uma do mestre
Cambota, que aproveita madeiras nativas, esculpidas naturalmente, e só
faz os encaixes, revelando a figura de São Francisco (a imagem deste,
aliás, está no encarte do CD). Temos outra feita a partir de um garfo e
mais uma de um palito de fósforo. Eu mesmo fiz uma, a partir de uma
cabaça”.
Não bastasse, há cerca de um ano, Gustavo encontrou uma imagem do santo
meditando, o que fez todo sentido para ele, que admira a opção do santo
pela busca interior e pelo autoconhecimento. “Enfim, o carisma de
Francisco inspira a arte, e os artesãos têm formas lúdicas e diferentes
de caracterizar o santo”.
Sobre o CD – que sucede “Vaqueiro” (2008) e “Viola de Todos” (2012) –
vale destacar a faixa “Canto da Natureza”, com introdução em tupi
guarani, cantada pela índia Adana Omágua. “Acredito que os povos
indígenas, pela proximidade histórica com a natureza e pela relação
respeitosa com o meio ambiente, estabelecem uma interface com os ideais
de Francisco. Por isso a ideia de fazer essa conexão. Adana estuda
Medicina na UFMG com o propósito de aliar o conhecimento acadêmico aos
ensinamentos ancestrais de seu povo”.
Na faixa, ela repete o refrão que diz: é preciso ser terra, água, fogo e
ar. “É a integralidade dos elementos, o meio ambiente em seu sentido
amplo – uma coisa natural para os indígenas – e para São Francisco.
Gustavo Guimarães lembra, ainda, que São Francisco tem uma relação
interessante com a cultura popular. "Porque foi o primeiro a encenar um
presépio, na cidade italiana de Greccio, no Natal de 1223. Por isso, é
considerado patrono das folias de reis, que saem na época do natal para
fazer a louvação dos presépios". Ele aproveita para ressaltar que a
viola caipira é um instrumento típico dessa manifestação cultural e
religiosa. "No meu CD, tem uma folia mantra, onde São Francisco entra
como um folião. O santo também adorava cantar. Nessa folia uso alguns
instrumentos típicos da cultura popular, como viola, rabeca e caixa e
misturo com instrumentos orientais como o citár indiano e a tabla, para
fazer referência aos Três Reis Magos", anuncia.
Nascido em Diamantina, Gustavo passou boa parte da infância e juventude
em João Pinheiro. "Meu trabalho tem traços dessas duas realidades: os
rios, o Cerrado, as veredas; toda a riqueza cultural do Vale do
Jequitinhonha e a vida sertaneja do Noroeste de Minas". Neste caldeirão
entram, ainda, influências musicais recebidas desde a infância, quando
ele escutava, atento, as folias de reis e as modas caipiras, "até a
juventude, quando o rock nacional e a MPB eram os destaques nas rádios".
Curiosamente, seu contato com a viola se deu quase que por acaso.
"Professor de violão, recebi uma viola para afinar e descobri ali meu
instrumento. A versatilidade da viola foi fundamental para que eu
pudesse trabalhar todas as suas influências, as memórias de um
repertório muito diversificado e de paisagens inesquecíveis". Além da
carreira como violeiro, compositor e cantor, Gustavo se dedico a
registrar trabalhos de grupos de cultura popular e mantém um estúdio de
gravação. "Produzi o CD 'Folia de Reis de Venda Nova' e o CD do violeiro
Zé Padre, de Araçuaí. Participei, ainda, da produção do CD 'O Congado
em Bom Jesus de Matozinhos'", enumera.
Ainda em 2008, iniciou um trabalho coletivo com os violeiros Chico
Lobo, Pereira da Viola, Wilson Dias, Joaci Ornelas e Bilora, formando o
VivaViola. O grupo lançou o CD "VivaViola - 60 cordas em movimento" e
"VivaViola - Viva a Cantoria".
Patrícia Cassese - Hoje em Dia
Recomendadíssimo !
Se vc gostou adquira o original valorize a obra do artista.
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CANTO SAGRADO
Este álbum é muito bonito, como são os demais trabalhos do Gustavo Guimarães! Baixem o quanto antes, mas se possível comprem o disco com ele!
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