Nascido num
alto de serra entre as águas mansas da Cordilheira do Espinhaço,
Bernardo agora assina o nome das montanhas que permeiam suas canções.
Paisagens de pedras, flores, rios e os povos isolados do sertão ocupam
onipresentes a linguagem do músico.
Bernardo é um homem interessado pelas lonjuras. De lá ele traz o violão,
a viola caipira, o acordeão e a flauta transversal. Mas sua linguagem
musical converge pra contemporaneidade, e o músico soma sem temor
programações eletrônicas, guitarras e toda parafernália capaz de
distorcer e modificar o som, tornando-lhe visceral e próprio.
Entre 2003 e 2013 foi o criador e principal compositor do Músicas do
Espinhaço. Banda que lançou três discos e teve o maior número de
apoiadores e recurso recolhido através de um projeto de música na
história do crownfunding em Minas Gerais. Bernardo é parceiro de
artistas como o fundador e letrista do Clube da Esquina, Márcio Borges,
seu irmão Lô Borges e o cantautor cearense Joaquim Izidro. Está também
muito relacionado às causas ambientais, participando ativamente de
diversos movimentos pela criação de parques e projetos de
sustentabilidade nas montanhas brasileiras.
Presente em
diversas listas de melhores discos de 2014 o álbum "O Alumbramento de um
Guará Negro numa Noite Escura", o primeiro de Bernardo do Espinhaço, é,
como se lê, uma ode ao noturno.
Propositadamente contrastado com seu antecessor, "Manhã Sã" se serve do
sol para acontecer. O set inicial do disco, com 5 canções, é solar e
percussivo, repleto de programações eletrônicas, assinadas pelo próprio
músico mas também por GA Barulhista, nome frequente nas trilhas de
teatro e dança em Minas. Com a temática recorrente de Bernardo, sempre
emoldurada pelos estonteantes cenários da Serra do Espinhaço e os baixos
jazzistas oitavados de Frederico Heliodoro, estas canções iniciais se
apresentam plurais. Cidades devastadas pela mineração, a simplicidade de
um menino entregue aos prazeres num banho de rio ou a paixão erotizada
pelos adornos da natureza são alguns dos temas presentes.
Mais acústico e ralentado, o segundo set propõe densidade, porem
igualmente ensolarado e acessível. Momento ideal pra ser preenchido pelo
pianista e arranjador Rodrigo Lana, e também pela rica concepção
rítmica de Gustavo Campos e Rafael Furst. Num momento o poeta Manoel de
Barros é o alvo lírico de umas das canções, noutro o tom confessional do
amor fraterno, em canção feita para seu pai e avô. O pico do Itacolomi
em Ouro Preto, o Parque Nacional Sempre-vivas e a Chapada Diamantina são
alguns dos lugares retratados.
No encarte, todas as músicas, que são de autoria de Bernardo, receberam
paralelos gráficos do artista plástico JB Lazzarini. A união de JB, que é
natural da própria Cordilheira do Espinhaço, com Bernardo, surgiu de
curioso encontro onde ambos se procuraram. Novamente presente, Manoel de
Barros empresta seu límpido poema "O menino que ganhou um rio" que abre
os textos e reforça a intenção tonal da obra: clareza, despretensão e
singularidade.
Recomendo, um clássico !
Se vc gostou adquiri o original, valorize a obra do artista.
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CANTO SAGRADO
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