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quarta-feira, 28 de setembro de 2016

CLAUDIO FARIA - O QUE NINGUÉM ENSINA



Por Rodrigo James

A palavra “artista” tem mil e um significados no mundo moderno. Desde ex-participantes de reality shows até pessoas que realizam tarefas consideradas fora do comum, todos somos artistas em algum momento de nossas vidas. E de certa forma é louvável que sejamos. Afinal, como dizia um slogan antigo de uma grife de roupas, “viver é uma art, man!”. Mas se voltarmos à definição de artista mais comumente aceita - aquela que diz que ele “é uma pessoa envolvida na produção da arte, no fazer artístico criativo” - muito poucos o são. Cláudio Faria é um deles. Artista na acepção da palavra, constrói sua vida em torno de sua arte e faz com que ela seja realmente uma tradução de sua própria vida.

O envolvimento de Cláudio com sua arte, a música, começou ainda na adolescência, quando fez parte do grupo “Antes Arte do que Tarde”, da Fundação Clóvis Salgado, em Belo Horizonte, e lá conheceu sua mentora na música, a professora e compositora Cláudia Cimbleris. No grupo, Cláudio começou a dar vazão à sua criatividade, se especializando em escrever arranjos. Da sala de aula para os palcos, o “Antes Arte do que Tarde” não se limitava à teoria. Exercitava a prática através da série de apresentações “Segunda Maior”, onde os músicos tinham o privilégio de dividir o palco do Palácio das Artes com alguns grandes nomes da música. Assim, Cláudio teve a oportunidade, ainda bem novo, de se apresentar ao lado de gente como Toninho Horta, Sá e Guarabyra e Flávio Venturini.

Da teoria para a prática. Dos palcos para a profissionalização. O talento de Cláudio rapidamente o levou para o universo da música de uma forma ainda mais incisiva. Foi contratado para trabalhar como músico da banda de Paulinho Pedra Azul, com quem permaneceu por quatro anos até passar para a banda de um gênio da música de Minas Gerais: Lô Borges. Mais quatro anos se passaram até Cláudio pudesse então dar início à sua mais duradoura parceria, que perdura até hoje: a de músico, arranjador e produtor de Beto Guedes. Nas horas vagas, Cláudio nunca deixou de compor, arranjar e até mesmo se apresentar com inúmeros artistas espalhados pelo país, que tinham a ver com sua visão do que era a boa música. Dentre eles, estão Paulo Santos (Uakti), Marcus Vianna, Juarez Moreira e Leila Pinheiro, com quem Cláudio imediatamente estabeleceu uma inspirada parceria. Isso tudo sem falar na banda “Noivo da Lu”, que Cláudio integrou durante os anos 1990 e 2000 e com quem gravou dois discos e no disco em parceria com a própria Cláudia Cimbleris, “Os Sete Raios”, lançado em 2005.

Mas faltava algo. Faltava a Cláudio uma união ainda mais simbiótica entre sua vida e sua arte. O pontapé inicial veio quando Flávio Venturini o convidou para integrar o cast de seu selo “Trilhos.Arte” e gravar seu primeiro disco solo. Flávio já havia gravado uma música sua (“Sob o Sol do Rio”) e o convite acabou surgindo naturalmente. Assim, Cláudio iniciou sua carreira-solo em 2009 com o CD “O Som do Sol”. Uma produção caseira, gravado literalmente em sua casa, com a contribuição valiosa de alguns amigos que Cláudio foi fazendo ao longo dos anos de militância no meio musical. Dentre eles, o baterista Neném e o baixista Adriano Campagnani, além do próprio Flávio Venturini, que canta na faixa título, composta em parceria com o poeta Murilo Antunes e de Beto Guedes, que empresta sua voz para abrilhantar “Ana”.

Vida e arte. Sempre se confundindo e se influenciando, mudando os rumos da vida do artista. Pouco depois do lançamento de “O Som do Sol”, Cláudio perderia seu pai e seus planos sofreriam uma mudança de rumos, desistindo de promover o disco. Ironicamente seria uma outra doença na família que o levaria a fazer o contrário: conceber mais um trabalho e registrá-lo para a posteridade.

 
Alguns anos se passaram desde “O Som do Sol” e Cláudio foi mais uma vez obrigado a diminuir seu ritmo: sua mãe, Maria Simim Faria, mais conhecida como “Mariinha” adoeceu e Cláudio passou a permanecer mais tempo em casa, perto dela, que inspirava muitos cuidados. Com o tempo, foi aprendendo a conviver com a doença e até mesmo arrumar tempo para se dedicar à música, compondo e arranjando as canções que fariam parte deste segundo disco. Com sua fã número 1 ao seu lado, Cláudio se motivava ainda mais na medida em que as canções iam tomando forma e prenunciando um álbum mais orgânico, de canções, que pudessem causar algum tipo de reação nas pessoas, nem que fosse um simples elogio por sua beleza.

Infelizmente, Mariinha faleceu três anos depois, sucumbindo à doença degenerativa. E Cláudio, ao contrário do primeiro disco, quando não teve forças para divulgá-lo, desta vez encontrou a energia necessária para registrá-lo, até mesmo para homenagear sua mãe, que participou de todo o processo, opinando e dando seu aval às canções. “O Que Ninguém Ensina” começou então a ganhar forma no Estúdio Ultra, o escolhido por Cláudio para o registro. A seu lado, alguns colaboradores bem especiais, músicos que não apenas serviram como força braçal, mas também contribuíram para o clima geral do trabalho, como o baterista Robinson Matos, o baixista Adriano Campagnani e um quarteto de cordas formado por Mateus Freire, Rodolfo Toffolo, João Carlos Ferreira e Sérgio Rabello, executando os arranjos de Cláudio.

Das 11 canções de “O Que Ninguém Ensina”, oito são de autoria de Cláudio. Uma delas, a faixa-título, é uma parceria com Rodolfo Mendes e traz o verso que deu o tom geral do trabalho e praticamente se colocou como o título do álbum: “Até quando a gente vai viver / Pra aprender o que ninguém ensina”. Já “Meu Porto” é uma parceria bem especial de Cláudio com Leila Pinheiro e surgiu após uma sessão na casa de Leila, com Cláudio tocando piano. Leila também participa do disco emprestando sua voz inconfundível para a regravação de “Sob o Sol do Rio”. Completando a lista, “Tudo em Você”, de Beto Guedes e Ronaldo Bastos, que Cláudio executou inúmeras vezes ao longo dos anos, pelos palcos do Brasil.

Ainda no quesito participações especiais, duas chamam a atenção, logo na primeira música do disco, “Simples Canção”: a cantora Vanessa Falabella, que se apaixonou pelo trabalho de Cláudio e fez questão de estar no disco; e o veterano músico Célio Balona, que toca acordeon. A produção musical de “O Que Ninguém Ensina” ficou a cargo do próprio Cláudio, com o auxílio precioso do engenheiro de gravação e mixagem Henrique Soares. As fotos que compõem o projeto gráfico são do arquivo de Cláudio e da fotógrafa e designer Shirley Fráguas. Tudo feito com um amor supremo pela arte, pela música e de uma maneira despretensiosa, como tinha que ser.

O disco:
Na busca do intangível (que não está relacionado com a realidade percebida pelos sentidos e cuja a existência se efetiva tendo em conta a abstração) nada como recorrer ao chamado "mar de sonhos" (a face oculta da lua) para tentar explicar a realidade que só existe no contexto da imaginação e que não pode ser representadas por fatos.
O amor é assim, a amizade é assim e assim também é a música. Nessa "paisagem lunar" não se pode dispensar o  é primordial e essencial.
Na busca das coisas que o olho não vê, o coração (o nosso "sexto sentido") talvez seja o único caminho para se desvendar o abstrato da vida, aquilo que não se pega e que para entender tem que necessariamente sentir.

Se vc gostou adquiri o original, valorize a obra do artista.
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CANTO SAGRADO
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cantosagrado

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