Os versos da toada que batiza Tempo de paz,
álbum que junta o violeiro mineiro Chico Lobo com o cantor carioca Zé
Alexandre, traduzem com precisão o espírito humanista e sertanista do
bonito disco lançado neste mês de julho pela gravadora Kuarup.
Melodiosa toada, a música Tempo de paz
é uma das três parcerias dos compositores que compõem o repertório do
CD gravado no início deste ano de 2018 com produção orquestrada por
Sérgio Lima Netto com o próprio Chico Lobo.
A parceria foi iniciada com a folia Esperança, cantada por Lobo. Enveredando pelas entranhas do grande sertão nacional, Estradar é a terceira composição assinada e gravada pela dupla no álbum Tempo de paz.
Afinados pelo zelo com o verde e os tons musicais do Brasil rural,
Chico Lobo e Zé Alexandre montam painel dos sons do interior no toque da
viola caipira. É como cantador do sertão nordestino que Alexandre dá
voz ao Aboio de gratidão, assinado por Lobo.
Com o recorrente toque da viola de Chico Lobo, Zé Alexandre conta e
canta histórias dos rincões de um Brasil sertanejo, romantizado no
ideário do artistas, como exemplificam os versos de Cadim de viola, música inédita de Alexandre.
Fora desse rincão, há a valsa Bandolins,
apresentada pelo compositor, Oswaldo Montenegro, ao lado de Zé
Alexandre em festival de música promovido em 1979 pela extinta TV Tupi.
Embora carioca, estando atualmente radicado em Minas Gerais, Zé
Alexandre foi criado em Brasília (DF), para onde o carioca Montenegro se
mudou no início da década de 1970.
A abordagem de Bandolins
na abertura do disco se justifica não somente pelo inédito arranjo de
viola caipira, mas pelo fato de Montenegro ter vivido parte da infância e
da adolescência na cidade mineira de São João Del Rei, terra natal de
Chico Lobo, violeiro virtuoso que ganhou atenção da mídia carioca quando
Maria Bethânia – cantora que vem dando cada vez mais voz aos sons dos
sertões – incluiu composição do artista, Criação (1996), no roteiro do show comemorativo dos 50 anos de carreira da intérprete, Abraçar e agradecer (2015).
No álbum Tempo de paz, Chico também se exercita eventualmente como cantor, embora o dom maior do artista seja o de músico. “Minha arma é a viola / E eu a trato com respeito / Pra cantar verso dobrado / Minha voz vem lá do peito”, avisa o violeiro ao dar voz a versos de Cantoria, música da própria lavra que integra o repertório do álbum Tempo de paz.
Em Viola de Minas (Chico Lobo) – música autoral também cantada pelo violeiro – e na releitura de Cruzada
(Tavinho Moura e Márcio Borges, 1978), o toque do violoncelo do músico
inglês David Chew se harmoniza com a viola caipira em arranjos de Blas
Rivera, promovendo o link dos salões europeus com os rincões
brasileiros, no mesmo tempo de paz que sereniza todo o disco que une
Chico Lobo a Zé Alexandre, artistas que trazem o sertão dentro deles.
* Por Mauro Ferreira, G1
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Belíssima postagem,cd maravilhoso!
ResponderExcluirParabéns pela postagem. Extremo bom gosto.
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