O
Uakti é um grupo
brasileiro de
música instrumental, formado por
Marco Antônio Guimarães,
Artur Andrés Ribeiro,
Paulo Sérgio Santos e
Décio Ramos1 . O Uakti é conhecido por utilizar
instrumentos musicais não convencionais, construídos pelo próprio grupo.
O nome
O nome do grupo se origina de uma lenda dos
índios Tukano.
Uakti era um ser
mitológico que vivia às margens do
Rio Negro.
Seu corpo era repleto de furos que ao serem atravessados pelo vento
emitiam sons que encantavam as mulheres da tribo. Os homens perseguiram
Uakti e o mataram. No local onde seus restos foram enterrados nasceram
palmeiras que os índios usaram para fazer
flautas de som encantador como os produzidos pelo corpo de Uakti
2 3 . Embora não acentuado, o nome é pronunciado com a sílaba tônica em ti.
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História
O líder do grupo, Marco Antônio Guimarães estudou música na
Universidade Federal da Bahia em
Salvador3 . Ali conheceu e teve aulas com
Walter Smetak que transmitiu-lhe a paixão pela construção de instrumentos musicais e
Ernest Widmer que teve influencia marcante em suas técnicas de composição
3 . Nos anos seguintes à sua formação, Marco Antônio tocou
violoncelo em
orquestras sinfônicas de
São Paulo e
Minas Gerais. Neste mesmo período, construía no porão de sua casa, diversos instrumentos com tubos de
PVC,
madeira,
metais e
vidro.
Os instrumentos estavam prontos mas faltavam os executantes. Em 1978, o
músico teve a idéia de convidar alguns de seus colegas da
Orquestra Sinfônica de Minas Gerais para reuniões na Fundação de Educação Artística de Belo Horizonte. Vários músicos compareceram. Entre eles, os
percussionistas Paulo Sérgio Santos e Décio de Souza Ramos, o Flautista Artur Andrés Ribeiro e o violoncelista Cláudio Luz do Val
3
. Estes músicos desenvolveram a técnica de execução dos instrumentos e
formaram o grupo. Marco Antônio Guimarães se tornou o principal
compositor e
arranjador, embora todos os demais participantes também produzam criações com freqüência.
A primeira gravação do grupo foi uma participação na
trilha sonora do filme
Cabaré Mineiro de
Carlos Alberto Prates, em 1979. A trilha foi composta por
Tavinho Moura e o Uakti participou na faixa "O sonho". Através de Tavinho, o Uakti fez contato com os músicos do chamado
Clube da Esquina. Em 1980 participaram do disco "Sentinela" de
Milton Nascimento e fizeram sua primeira apresentação pública no museu da
Pampulha.
O primeiro disco, "Uakti - Oficina Instrumental" veio no ano seguinte,
em conseqüência da popularidade adquirida nas apresentações com Milton
Nascimento. Com a saída do violoncelista Cláudio Luz, o violonista Bento
Menezes entrou no grupo e permaneceu até 1984, quando o grupo gravou
seu terceiro disco "Tudo e Todas as Coisas". A partir desta gravação,
passaram a utilizar cada vez com menos freqüência os instrumentos
tradicionais. Nesta fase, quase todas as canções gravadas pelo grupo
eram composições de Marco Antônio Guimarães ou parcerias com Milton
Nascimento.
No período entre 1981 e 1987, consolidaram sua carreira no
Brasil e participaram de outra gravação de Milton nascimento ("Ânima"). Sua primeira turnê internacional aconteceu na
Espanha. Em 1987, participaram do álbum "Brazil" do grupo de
Jazz Vocal
Manhattan Transfer. Durante um show nos
Estados Unidos, o cantor
Paul Simon conheceu sua música e os convidou a participar, em 1989 do álbum
"The Rhythm of the Saints". Durante a Gravação,
Philip Glass, compositor dos
Estados Unidos
que estava no Brasil, foi visitar Simon e ouviu o som do grupo. Isso
resultou em um contrato para a gravação de cinco álbuns pelo seu selo
Point Music.
O quarto álbum do grupo (e o primeiro pela Point Music), "MAPA", lançado em 1992 é uma homenagem ao músico
Marco Antonio Pena Araújo, amigo dos integrantes do grupo, que havia morrido em 1986. O nome MAPA é um
acrônimo formado pelas iniciais de seu nome.
A fama conquistada internacionalmente pelo grupo rende então muitos trabalhos, O Uakti viaja ao
Japão e vários países da
Europa. O
Grupo Corpo, um dos grupos de
dança mais importantes de
Minas Gerais
encomenda várias composições originais para Marco Antônio Guimarães: "A
lenda", gravada no CD "MAPA", "Bach", que Marco Antônio lançou como
trabalho independente, "I Ching" e "21" que se tornaram álbuns do Uakti
em 1994 e 1997. Além desses, o grupo lançou "Trilobyte" em 1997, que
conta com composições de todos os integrantes do grupo, além de
adaptações de composições populares.
Em 1993 Philip Glass também é comissionado pelo Grupo Corpo para produzir uma composição para
balé.
Glass escolhe então o Uakti como intérprete da sua composição "Águas da
Amazônia - Sete ou oito peças para um balé". O arranjo é entregue a
Marco Antônio Guimarães, que o adapta ao instrumental do Uakti. A
gravação desta composição foi lançada em 1999, no álbum "Águas da
Amazônia", que inclui ainda uma versão de metamorphosis I, outra
composição de Glass
2
. Esse álbum encerrou o contrato com a Point Music. Em 2004 Glass
convidou o Uakti para uma nova parceria, dessa vez no projeto Orion. A
cidade de
Atenas, como parte das celebrações
pré-olímpicas, contratou Glass para uma série de shows ao ar livre e o Uakti foi um de seus convidados, apresentando composições de Glass.
A partir de 1998, gravam menos composições originais e se dedicam a produzir adaptações de peças consagradas do universo da
música erudita e do cancioneiro popular brasileiro. A trilha sonora do filme
Kenoma, de
Eliana Caffé(1998), utiliza principalmente composições de
Heitor Villa-Lobos. Em 2000, gravam com o grupo coral Tabinha, de
Uberlândia,
Minas Gerais, uma coletânea de canções populares. Em 2002, Lançam o CD
"Clássicos", somente com arranjos de composições eruditas e em 2005
fazem uma viagem por temas populares brasileiros no disco "Oiapok XUI",
que além de diversos temas de danças populares brasileiras, contém
quatro variações da canção "Águas de Março" de
Tom Jobim.
O Uakti também faz habitualmente participações em projetos de outros
artistas. Além dos já citados Milton Nascimento, Paul Simon e Manhattan
Transfer, estão
Ney Matogrosso,
Maria Bethânia,
Zélia Duncan. Participaram também dos espetáculos "Dança das Marés, dirigido por
Ivaldo Bertazzo e "Ihú - Todos os Sons", apresentando temas indígenas recolhidos e adaptados por
Marlui Miranda.
Em 2009, Marco Antônio Guimarães anunciou sua intenção de interromper suas atividades de
luthier
e principal compositor do grupo. Em consequência disso, os demais
membros anunciaram que passariam a atuar como compositores e
arranjadores para novos trabalhos. Em 2010, o Uakti anunciou a
contratação de um escritório de arquitetura para projetar a construção
de uma sede própria em Belo Horizonte, chamada Centro de Referência
Uakti, contando com área de exposição, salas de estudo e um teatro
integrado a um estúdio de gravação.
3
Música
O principal compositor do Uakti, Marco Antônio Guimarães, tem
formação erudita e utiliza em suas composições um estilo composto de
estruturas rítmicas complexas. Normalmente mais de um compasso é
utilizado na mesma composição, quando não é utilizada métrica livre. A
melodia e harmonia são compostas de forma a aproveitar as
características de execução do instrumental. O estilo do Uakti já foi
comparado ao
minimalismo de
Steve Reich e Philip Glass.
Se por um lado, as técnicas composicionais são contemporâneas, a
sonoridade dos instrumentos, por outro, empresta um caráter primitivo à
música do grupo. Esta dicotomia é o segredo do som do Uakti.
Instrumental
Os instrumentos não convencionais construídos por Marco Antônio
Guimarães são os responsáveis pela sonoridade característica do grupo. A
lista abaixo descreve apenas alguns dos instrumentos utilizados com
mais freqüência. O instrumental completo, no entanto, possui uma
variedade muito maior
Pans
Basicamente todos os pans seguem um princípio básico: Tubos de PVC de
diversos comprimentos, montados de forma a que suas extremidades
estejam alinhadas, em uma disposição muito semelhante à de uma
flauta de pan.
Os tubos são percutidos com uma manta de borracha ou com as mãos. Como
cada comprimento de tubo produz uma nota diferente, estes instrumentos
são afináveis e podem tocar
melodias ou
acordes. Atualmente, são utilizados em dois tamanhos: o
grande pan com tubos flexiveis que permitem um grande comprimento e são usados como baixos e o
pan inclinado
de comprimento menor, usado nas melodias principais. Eventualmente
também podem ser executados por sopro na extremidade dos tubos. Esse
recurso é usado geralmente para produzir efeitos sonoros de curta
duração.
Marimbas
Idiofones compostos de teclas percutidas por
baquetas com cabeça de borracha ou feltro. A execução é semelhante à de um
xilofone ou
vibrafone.
A diferença das marimbas Uakti e dos xilofones ou vibrafones
tradicionais é que as teclas são dispostas sobre duas caixas de
ressonância independentes que podem ser invertidas ou deslocadas. Isso
permite a execução de acordes ou seqüências que seriam muito difíceis na
disposição tradicional. São duas as marimbas do Uakti:
- Marimba d'Angelim - feita de Angelim,
uma madeira usada na construção civil, que proporciona um som rústico,
porque essa madeira possui variações de densidade que tornam seu timbre
diferente dos xilofones normais.
- Marimba de vidro - as teclas são feitas de vidro, o que proporciona notas de maior ressonância que as de madeira.
Instrumentos de cordas com arco
Tocados nas gravações por Marco Antônio Guimarães, são, em geral, inspirados no violoncelo ou na
viola da gamba.
- Iarra - Espécie de violoncelo, com dois pares de cordas que
devem ser pressionadas simultaneamente pela mão esquerda. Um arco é
usado para fazer a corda soar.
- Chori Smetano - Instrumento criado por Walter Smetak. Basicamente é um instrumento de corda com arco que usa uma cabaça
como caixa de ressonância. Segundo seu criador este instrumento pode
transmitir simultaneamente sentimentos antagônicos como o choro e o
riso. Daí seu nome cho-ri (chora e ri). Guimarães construiu seu chori
smetano com as dimensões de braço e arco de violoncelo, assim qualquer
violoncelista pode executá-lo.
- Torre - Grande tubo de PVC com um espigão de contrabaixo em
uma das extremidades e uma manivela na outra. Nas laterais do tubo,
várias cordas são esticadas. São necessários dois músicos para
executá-lo. Um gira o tubo em torno de seu eixo com a manivela. O outro
usa um arco composto por duas vareta e um jogo de crinas de viola
para friccionar as cordas. Como o arco pode abraçar várias cordas
simultaneamente, podem ser tocados acordes. A variação da velocidade e
da quantidade de notas envolvidas pelo arco cria variações harmônicas.
Este é um dos instrumentos mais surpreendentes nas apresentações ao
vivo, pela riqueza harmônica do som produzido e pela interpretação
bastante peculiar. Utilizado normalmente como base harmônica em diversas
composições.
Tambores
Os
membranofones também são parte importante da sonoridade do Uakti, principalmente o
trilobita
formado por 10 tubos de PVC afináveis montados em um suporte e com
peles de tambor sobre a extremidade superior. Dois músicos se colocam
frente à frente, tendo o instrumento entre eles e usam os dedos,
baquetas ou a palma das mãos para percutir as peles, produzindo melodias
muito rápidas
Instrumentos tradicionais
Alguns instrumentos tradicionais também são usados pelo grupo. Vários tipos de tambor comuns como os
atabaques,
surdos e também as
tablas, tambores tradicionais
indianos, são utilizados. Ocasionalmente também são utilizados instrumentos de cordas como o
violão e o
piano, embora sua execução normalmente seja feita com baquetas e em afinações alternativas.
As
flautas
transversais, tocadas por Artur Andrés são, possivelmente, os
instrumentos tradicionais usados com maior freqüência pelo grupo, mas
também elas podem ser tocadas às vezes com o bocal chinês, um bocal com
uma membrana que vibra com a passagem do ar aproximando o som da flauta
ao de um instrumento de palheta.
Discografia
- CDs
- Uakti - Oficina Instrumental (1981)
- Uakti 2 (1982)
- Tudo e Todas as Coisas (1984)
- Mapa (1992)
- I Ching (1994) - música para o espetáculo do Grupo Corpo.
- 21 (1996) - música para o espetáculo do Grupo Corpo.
- Trilobyte (1997)
- Águas da Amazônia (1999) - música de Philip Glass para o Grupo Corpo. Arranjos de Marco Antônio Guimarães.
- Mulungu do Cerrado (2001) - com o Grupo Tabinha.
- Clássicos (2003).
- Oiapok Xui (2005)
- Ensaio Sobre a Cegueira(2009)
- Uakti Beatles (2012) 4
- DVD
- Uakti (2007) - show gravado na Palácio das Artes de Belo Horizonte
I Ching é, sem dúvida, outro trabalho excelente do
Uakti,
o grupo considerado um ícone de seu estilo. Formado no ano de 1978, sua
música se caracteriza pela instrumentação original de Marco Antônio
Guimarães (cordas), discípulo do suíço Walter Smetak; Paulo Sérgio dos
Santos e Décio de Souza Ramos (percussões); e Artur Andrés Ribeiro
(sopros). Este disco apresenta 11 faixas fantásticas, como
Montanha,
Trovão,
Dança dos Hexagramas e
Ponto de Mutação, alguns dos destaques. Uma gravação imperdível que não pode ficar fora de sua coleção. Confira!
1- Céu
2- Terra
3- Trovão
4- Água
5- Montanha
6- Vento
7- Fogo
8- Lago
9- Dança dos Hexagramas
10- Alnitax
11- Ponto de Mutação
BAIXE ESSE CANTO SAGRADO: