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terça-feira, 16 de abril de 2019

SERGIO PERERÊ - CADA UM

O som começa com um berimbau, mas ele logo se transforma nos pontos eletrônicos que vão compondo a imagem sonora. Os sons eletrônicos lembram outros instrumentos – estamos escutando uma sanfona? Ou um Moog? A sétima faixa de Cada Um indica: Tudo mudou, tudo mudou. E tudo muda: sonoramente e, ainda, propõe uma revolução que parta do coração. Isso talvez explique a intimidade e a transformação que o disco Cada Um indica na carreira de Sério Pererê. Transformação aqui não indica uma mudança de paradigma ou um reinício, mas como as coisas se transformam, transmutam. E, na carreira do cantor, a mudança é uma constante importantíssima. A marca percussiva da carreira de Pererê está presente, mas de uma forma diferente: a sonoridade sofre mutação e a força agora vem dos sons produzidos pelo Barulhista e por Richard Neves.
O disco começa com Silêncio Interior, mas que é um silêncio que se fala ou, melhor dizendo, se fala sobre o silêncio e, principalmente, sobre a necessidade de contar histórias, a sua história. No fim das contas, ainda poderei contar histórias, das coisas que vivi, por onde caminhei. Se a voz começa como um sussurro, ela logo se abre, e pede que a vida fale e ela fala: se a correnteza é forte, deixa a correnteza te levar. O existencialismo que marca boa parte das letras de Sérgio Pererê é demonstrado muito bem aqui: se desloca do ocidente para si mesmo e daí para o mundo. Existencialismo que não marca a tradição ocidental apenas, no máximo de esguelha, ganha contorno dos caminhos, do tempo, do espaço, da gravidade e se configura em uma Casa de Flores: a dor que eu carregava não sobreviveu.
Cada Um, a faixa que dá nome ao disco, é uma boa escolha para nomear porque ela apresenta a mistura que, de fato, se espalha pelo disco: os sons se misturam aos ritmos e vão lembrando uma gama de instrumentos que é acompanhado por vozes (em frente e ao fundo) e ainda é contemplado pela língua estrangeira – All I want is just what’s mine – que se conjuga com o português brasileiro. Algo que vai estar presente na faixa seguinte, Woman, que, na verdade é Iemanjá, mas que mistura a sonoridade da palavra mulher em inglês com o Ô Mãe a ponto de se misturarem. A oração é pedindo ajuda com o medo de navegar na e pela vida. Mais uma vez, são esses que vieram antes que podem ajudar no caminho adiante, pelo desconhecido, pelo turbulento; desconhecido que parecia a direção do disco, mas que o barco não naufraga, pelo contrário, chega triunfante em uma nova terra: É leve e daí se pode até voar: Voar é só uma questão de perceber a força que te deixa leve e ter um sentimento que te leve a encontrar algo que eleve.
Sertão, que fecha o disco, é a canção de sua memória já que o disco também provoca uma dobra e é, também, um guardião da memória. Da balada, do beatbox, do rock, do jazz, das jornadas, e tudo, tudo volta, ao lar, ao jardim, ao cuidado. O sertão, mas que é ser-tão, ser-tanto, ser-memória, ser-tudo e ser-único.
A composição rítmica de Cada Um é bastante diversa: unindo praticamente elementos do mundo todo, temos o quase reggae, quase ska de Inseguro e, além do sol, além do mar, e também temos os elementos orientais de Mestre Samurai. Neste, ainda apresentam a vasta gama de ancestrais e figurais míticas que servem de guia e orientação durante a existência: Meu mestre samurai, como eu cheguei aqui, venci os temporais e voltei a sorrir? Os mestres, os ancestrais estão neste panteão, no Caminho do Sol, que canta com Laura Catarina: Meu mestre mirou, o caminho do sol e lá foi morar. Meu mestre mandou mensagem na luz que é pra ninguém chorar. Mas ela se apresenta de forma inteira na belíssima Guardiões da Memória, já que é na memória, no passado, que se aponta o futuro: Guardiões da memória, cantem sua canção pra mim, parte dessa história, chegou ao fim. Guardiões da memória cantem uma canção que nos traga de volta a direção.
Pedro Kalil

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