"É um doce que canta", define Roberto Menescal. Considerada uma das
grandes intérpretes da música popular brasileira na atualidade, Márcia
Soraia Tauil Braga Zamarian, 49, é moradora de Brasília. Há oito anos,
ela presenteia a cidade com sua voz, considerada por outros artistas do
gênero como uma das mais afinadas da MPB. Marcinha, como é chamada pelos
amigos mais íntimos, tem um balanço tipicamente brasileiro, facilmente
percebido em suas composições, que fazem querer cantar e dançar junto. E
em 2018, ela completa 20 anos de carreira.
Natural de Guaxupé, interior de Minas Gerais, Márcia disse à família que queria ser cantora quando tinha 3 anos. "E eles levaram a sério", brinca. Filha de um violonista de chorinho, sua primeira "escola" musical foi a banda de baile Opus Band, liderada pelo irmão mais velho, Ivan Tauil. "Depois de trabalhar em grupos e em barzinhos, eu resolvi que realmente queria ser cantora. Queria descobrir como eu, morando no interior de Minas Gerais, podia gravar um CD", destaca. Em 1998, Marcinha seguiu, então, sozinha, para São Paulo em busca do seu sonho, sem saber ao certo o que esperar da metrópole.
Em 2 de dezembro daquele ano, no dia do seu aniversário, ela desembarcou na capital paulista. Naquela quarta-feira, foi encontrar um produtor musical no conceituado Villagio Café. Ele pediu que aguardasse em uma mesa próxima ao palco, pois estava ocupado, organizando um grande evento. Tratava-se de uma noite de homenagens ao compositor José Carlos Costa Netto, dono da gravadora Dabliú Discos. A programação incluía grandes nomes da música, como Roberto Menescal, Leila Pinheiro, Eduardo Gudin, Vânia Bastos e Vicente Barreto.
"Quando ele (Costa Netto) chegou, o local estava tão lotado que, obrigatoriamente, teve que sentar na minha mesa. Eu sabia quem ele era, mas fiquei quietinha, só esperando uma abertura para entregar minhas fitas (VHS, na época)", relembra Márcia Tauil. Durante o show, ela cantou as músicas do compositor de forma despretensiosa e chamou a atenção de Costa Netto. Ele perguntou se ela sabia de quem eram aquelas músicas, o papo evoluiu e ela conseguiu entregar as fitas. Um ano depois, a cantora o convidou para uma apresentação no mesmo local. Em 1999, lançou o primeiro CD, Águas da cidade, pela Dabliú Discos. Em 2003, a produtora lançou seu segundo álbum, Sementes no vento.
Foram os primeiros passos de um sucesso que rendeu até nome de troféu para a artista. Em 2013 e 2014, a Prefeitura de Mococa (SP) fez um festival para novos talentos em que os vencedores levavam um prêmio batizado de Márcia Tauil. Ela também recebeu prêmios de melhor intérprete em vários concursos em que participou Brasil afora. Atualmente, além dos shows, Márcia é professora de canto muito requisitada.
Sem voz
Como
uma dessas histórias de filme, algo tinha que acontecer para dar emoção
ao roteiro da vida de Márcia. Após lançar o segundo CD, já com a
carreira estabelecida e fazendo shows por todo o país, a voz dela
simplesmente sumiu. "Eu ia a tudo quanto era médico e ninguém sabia o
que eu tinha", conta. Durante anos, a cantora só tinha força física para
cantar uma música em cada festival que participava. Porém, nunca deixou
de se apresentar. "Eu nunca parei a carreira. Quando estava
melhorzinha, fazia shows. Mas, por alguns períodos, tive que cantar
apenas uma música", relata.
Foi nesse período que compôs Canção na estrada e Colheita,
em parceria com Mana Tassari. As músicas foram premiadas na categoria
Regional do Festival Viola de Todos os Cantos, promovido pela Rede
Globo, em 2007 e 2009, respectivamente.
A artista se
dedicou a estudar a fundo as técnicas vocais, achando que podia estar
fazendo algo errado com a voz. O diagnóstico veio há cinco anos, depois
de ser examinada por vários médicos, já morando em Brasília. Márcia
tinha doença celíaca. Por causa da intolerância ao glúten, uma de suas
membranas inflamava sempre que ela cantava. Ao excluir totalmente o
trigo da alimentação, a voz voltou ao normal. Um final feliz depois de
oito anos de muito esforço para vencer.
Parcerias
Desde
o dia em que chegou a São Paulo, Márcia Tauil teve a carreira ornada
com o apoio de grandes nomes da música, como Roberto Menescal – um dos
fundadores da bossa nova —, Costa Netto, Rosa Passos e Cristóvam Bastos.
Com o mestre Menescal, Márcia fez shows por todo o país. "Meu padrinho,
meu amigo, meu parceiro. Foi ele o primeiro grande nome da música a me
dar parceria como compositora. Eu o amo de todo o coração", declara.
Sobre ela, Menescal também fala com carinho: "É um doce que canta. O que
diferencia a Márcia de outros artistas é a pessoa que ela é. Eu sigo
meu coração ao escolher com quem trabalhar. A única coisa que exijo da
vida é trabalhar com quem eu gosto. Ela é muito bacana e muito
confiável, além de muito dedicada e focada", garante o artista.
Outro
que a elogia é Costa Netto. À época, ele era dono da gravadora que
lançou os dois primeiros discos de Márcia. Assim, a cantora o considera
um "pai" musical. "Ele me fez nascer como profissional, lançando meus
dois primeiros CDs", conta a artista. Netto não esconde a paixão que tem
pelo trabalho de Marcinha. "Quando a ouvimos cantando, o timbre, a
forma como ela interpreta, o bom gosto em escolher as canções, vimos que
ela tem uma individualidade que a destaca." O compositor afirma que
Márcia escolheu o caminho mais difícil: o da música de qualidade e de
coração. "Eu a vejo no topo das grandes cantoras brasileiras", conclui.
A opinião é compartilhada por artistas do nível de Cristovão Bastos, respeitado no meio musical por ter ouvido absoluto – fenômeno raro que faz com que a pessoa saiba, por exemplo, a nota que chega até ele. E ele confidenciou a Costa Netto que Márcia Tauil é dona de uma das vozes mais afinadas da MPB na atualidade.
Márcia afirma que a maior influência feminina da música na carreira é de Rosa Passos. "Ela imprime uma qualidade musical e canta com tanta minúcia que, para mim, é a cantora que mais diz a mensagem que a música está passando. Ela valoriza o que letrista faz", afirma. Diz ainda que considera a compositora como uma espécie de fada madrinha. Rosa replica o elogio. "A Márcia é uma excelente cantora e tem um grande trunfo na mão, que é o talento diferenciado dela."
Segundo Passos, quem faz MPB enfrenta muita concorrência com as atuais 'músicas descartáveis'. "A Europa e os Estados Unidos valorizam muito mais a música de qualidade que o nosso país. Mas a Márcia está no caminho certo. Vai ter que lutar muito, mas o sucesso é iminente."
A bossa nova
O
gênero musical surgiu no Brasil, no fim da década de 1950 e durou até
os anos 1980, quando surgiu o que se tornaria a MPB. "A bossa nova é
minha irmã mais velha. Não é do meu tempo, mas eu cresci ouvindo de tudo
em casa”, destaca Márcia. Ao se mudar para Brasília, Tauil descobriu o
Clube da Bossa Nova. A organização, fundada em 2000 pelo engenheiro
Dickran Berberian, tem o objetivo de preservar e difundir o gênero, que é
considerado patrimônio cultural. Os associados se reúnem todos os
sábados, às 11h30.
"É uma política do clube
abrir espaço para novos artistas. Lembro até hoje a primeira música que
cantei. De lá pra cá, viramos carne e unha", afirma a cantora.
Atualmente, Marcia Tauil é uma das representantes da bossa em Brasília e
destaca a importância do clube: "É um palco que me dá tantas
satisfações e realizações e ao mesmo tempo, dá isso para tantas outras
pessoas que tem o espaço aberto, assim como eu".
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