Na
década de 80, o Brasil viu ser revelado um dos maiores instrumentistas
de nosso país, o violinista Marcus Viana. Arranjador, compositor e
talentosíssimo com o violino, Marcus nasceu em Belo Horizonte, sendo
filho de um renomado maestro de Minas Gerais, Sebastião Viana, o qual
foi assistente de Villa Lobos. O primeiro contato com algum instrumento
foi no piano. Aos 10 anos, Marcus teve aulas no instrumento, mas não
foi bem sucedido.
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Marcus Viana |
Quando completou 13
anos, começou a estudar violino, onde durante 12 anos, desenvolveu sua
técnica, que o levou para o Conservatório Mineiro de Música. Seu mestre
foi Gabor Buza, um húngaro que lhe mostrou tudo o que era necessário
para ser um exímio músico. Sua alta técnica, bem como uma mudança para
os Estados Unidos, em 1972, levou-o a integrar a Orquestra Sinfônica de
Harvertown, onde aprendeu composição.
Em
1974, retorna para o Brasil, onde vira figurinha carimbada nos
Festivais de Música Popular que ocorriam por Minas Gerais, na maioria
das vezes, destacando-se como melhor instrumentista. Junto aos
festivais, conhece Giácomo Lombardi (teclados, vocais), José Audísio
(guitarras, vocais), Edson Plá Viegas (baixo), Juninho (baixo) e Bob
Walter (bateria), formando o Saecula Saeculorum, onde toca violino,
violoncelo e também canta.
Dentre os músicos do Saecula Saeculorum,
Giácomo Lombardi era filho de uma família de imigranes italianos, e
assim como Marcus, desde pequeno desenvolveu seu apetite por música,
aprendendo diversos instrumentos com seu pai. Entre todos os
instrumentos, passou a se destacar no piano, sendo que com doze anos, já
dava aulas para colegas e também compunha canções, que com o passar dos
anos, transformaram-se na principal fonte de renda da família Lombardi.
O encontro dos dois gênios da música
nacional se deu em um grupo único, que passou a excursionar,
destacando-se como um dos principais nomes do rock progressivo na
épcoa, graças principalmente à técnica de seus integrantes, mas sem
nunca lançar um material original.
O
grupo acabou em 1977, e nunca mais se falou na banda, até que em 1996,
foram encontradas algumas fitas demo, as quais foram gravadas em
setembro de 1976, nos estúdios Bemol, e que acabaram sendo tratadas,
mixadas e transformando-se no álbum Saecula Saeculorum. O álbum
acabou não saindo em 1976 por problemas contratuais. O grupo havia sido
apresentado à gravadora Time Warner, que na época, colocou o baixista
Liminha (ex-Mutantes) para negociar com os mineiros. Liminha acabou não
concordando com as longas suítes, e exigiu canções curtas, que pudessem
atingir um sucesso comercial. Os membros do Saecula Saeculorum
recusaram a oferta, e o projeto ficou engavetado por anos, enquanto o
grupo rompia os laços e Marcus Viana partia para uma bem sucedida
carreira ao lado do Sagrado Coração da Terra e também compondo trilhas
para filmes e novelas. Já Lombardi abandonou a música nos nos 80, após
algumas participações com o Sagrado Coração da Terra, fundando ao lado
da irmá Roberta Navarro a marca de roupas Vide Bula, a qual foi
responsável por vestir Nina Hagen e Rod Stewart na primeira edição do
Rock in Rio, em 1985.
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Imagens do Saecula Saeculorum na década de 70 |
Foi
então que, depois de trinta anos, em 1996, o mundo descobriu o
primeiro grupo de Marcus Viana, e que através de sua maravilhosa
faixa-título, indica o imenso território que o Saecula Saeculorum
poderia ter conquistado. "Saecula Saeculorum" abre com os poderosos
acordes de piano e violino, fazendo uma pequena melodia, a qual é
imitada por cantos gregorianos. Uma intrincada sessão entre baixo,
piano, violino e bateria leva a dedilhados de piano e barulhos da
guitarra, e depois de batidas nos pratos, Lombardi desfila seus dedos
pelo piano, começando a letra da canção em um clima bem viajante, com o
dedilhado do piano e acordes do violino ao fundo.
Então, o piano dedilha novos acordes,
trazendo bateria e as notas de violino, que junto com o baixo, executam
um bonito tema. Walter quebra tudo, levando então pra um manhoso blues
com piano, baixo e bateria, para assim, mudar a canção novamente, com um
ritmo dançante feito pelos acordes de violino, acompanhado pela
marcação do baixo, bateria e piano, levar a letra da canção, estourando
no belo solo de guitarra, tipicamente Brasil nos nos 70. Viana solta os
dedos em um solo furioso, com o arco ardendo as cordas do violino, e a
letra continua, levando para uma sessão mais lenta.
O refrão é cantado sobre esse leve
acompanhamento, e então, Lombardi fica sozinho, dedilhando o piano, com
batidas fortes dos pratos ao fundo. O violino de Viana passeia entre as
notas do piano, deixando um longo acorde de órgão trazer os vocais em
latim. Violino e bateria surgem com violência, e o órgão ganha
evidência. Sinos trazem os vocais em latim, e mais uma sequência de
agressivas viradas de bateria e notas de violino, recheadas pelos
assombrosos acordes de órgão, levando a canção para um lindo tema da
guitarra acompanhado por órgão, piano e batidas nos pratos, muito
similar ao tema "Soon" de "The Gates of Dellirium" (Yes), trazendo então
o tema introdutório do piano e as sessões marcadas entre bateria, baixo
e violino, com um pequeno solo de violino encerrando a canção com
imponentes batidas na bateria ao fundo.
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Saecula Saecurolum. Em sentido horário: José Audísio, Marcus Viana, Bob Walter, Giácomo Lombardi, Juninho, e Edson Plá Viegas |
O resto de Saecula Saeculorum é tão maravilhoso quanto sua faixa de abertura. "Acqua Vitae", "Eu Quero Ver o Sol" (essa com uma fantástica participação de Lombardi) e "Constelação de Aquarius"
exalam virtuosismo, tecnica e muito talento dos integrantes do grupo.
"Rádio no Peito" é a mais convencional das canções do álbum, mas mesmo
assim, muito boa. O único pecado foi a pessima mixagem do álbum, que
acaba atrapalhando na identificação dos instrumentos e, principalmente,
na compreensão das letras do grupo.
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Saecula Saeculorum em 2007 |
Em
2007, o Saecula Saeculorum reuniu-se para uma série de concorridos
shows, tendo na formação Lombardi, Audísio, Viana, Jimmy Duchowny
(bateria) e Léo Araújo (baixo), que resultou em um DVD gravado na Praça
do Papa, em Belo Horizonte, no ano de 2007. Atualmente, Marcus
continua com seu projeto solo, e também ao lado do Sagrado Coração da
Terra, deixando o nome Saecula Saeculorum gravado para a eternidade
como um dos principais nomes do rock progressivo brasileiro, e que
infelizmente, teve um curto período de vida.
1.Saecula Saeculorum
2.Acqua Vitae
3.Eu Quero Ver o Sol
4.Constelação de Aquarius
5.Rádio no Peito