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terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

APARECIDA - REINOS NEGROS (EXCLUS. CSDT)

Lá vinha o cortejo dos negros, capitães e capitãs de bastão e espada na mão, atravessando a avenida Américo Vespúcio e convocando a força e a memória da ancestralidade. A manifestação de tradição e fé dos congados do bairro Aparecida, em Belo Horizonte, deram vida ao álbum “Aparecida, Reinos Negros”. Em suas 29 faixas, o disco reúne os reinados “Guarda de Moçambique e Congo Nossa Senhora do Rosário e Sagrado Coração de Jesus – Irmandade Os Carolinos”, “Guarda de Congo Feminino Nossa Senhora do Rosário” e a “Guarda de Moçambique do Divino Espírito Santo do Reino de São Benedito”.
Aproximar o público dessa cultura que segue marcando a existência afro-mineira na periferia de Belo Horizonte é a missão destinada a “Aparecida, Reinos Negros”. Além das guardas, o álbum conta com participações de Chico César, Fabiana Cozza, Mauricio Tizumba e Pereira da Viola. Sérgio Pererê, que assina a produção musical e a idealização do trabalho ao lado do produtor Elias Gibran, também participa de três faixas. O disco foi viabilizado por meio do Edital de Chamamento Público de Patrocínio a Projetos e Eventos CODEMIG 01/2017.
Aparecida, Reinos Negros” traz a variedade rítmica das guardas de moçambique e congo, como marcha-grave, moçambique serra-acima, moçambique serra-abaixo, dobrado, compassado e parasero, e os instrumentos tradicionais de cada uma como tambores, gungas, patangomes e sanfona. Os pontos/músicas interpretados por capitãs, capitães, caixeiros e dançantes foram e são perpetuados e transmitidos pela tradição oral de cada reinado. Neles, estão representados o cotidiano de devoção a Nossa Senhora do Rosário, aos santos negros e aos antepassados, a celebração da festa como marco maior da vivência da fé e o lamento e a resistência do povo negro atravessando os tempos.
Aparecida: muito mais que um território
Criado em 1928 sob o nome Vila Maria Aparecida, o bairro Aparecida compõe o conjunto de bairros operários que, ainda que localizados próximos ao Centro, sempre estiveram muito à margem dele. Os três reinados do Aparecida remontam aos reinos negros que se conformaram no Brasil e que participaram da recriação de significados, laços familiares e práticas de fé no contexto da resistência à escravidão. São também reminiscências das tradições do antigo Curral Del Rey e do repertório religioso-cultural trazido pela mão de obra vinda do interior para a construção da nova capital.
Reinados
As guardas de congado, em seus cortejos, reinterpretam nas ruas o mito fundador da aparição e retirada de Nossa Senhora do Rosário do mar pelos negros escravizados. Durante todo o ano, as guardas percorrem os diversos festejos de Belo Horizonte e de cidades vizinhas, em um movimento de visitas mútuas que compõem o ciclo anual do Rosário. As três guardas do bairro Aparecida são guardiãs desses saberes. Em 1937, quando Luiz Carolino refundou a Irmandade Os Carolinos, que Chico Kalu criara em 1917 em Contagem, a Avenida Américo Vespúcio, a principal do bairro, ainda era rio. A Irmandade é a terceira mais antiga da cidade ainda em atividade. Já o Congo Feminino do Aparecida é formado por filhas e netas dos fundadores da Guarda de Congo de Nossa Senhora do Rosário (“Guarda dos Caducos”), que existiu no mesmo bairro, de 1940 a 1976, e bateu pela primeira vez em 1973, a despeito da imposição que tanto ouviam – “Congado não é coisa de mulher”. Desta é que surge a Guarda de Moçambique do Divino Espírito Santo do Reino de São Benedito, fundada em 1996. Juntas, mantém viva a tradição dos reinos negros no bairro operário.
FICHA TÉNICA
O disco foi idealizado por Sérgio Pererê e Elias Gibran, e todas as etapas de sua concepção e produção foram construídas de forma colaborativa com integrantes das guardas participantes. Gravado, mixado e masterizado no Estúdio Casa Antiga por Fabrício Galvani, em Belo Horizonte -MG, entre abril e junho de 2017, com exceção das músicas “Chamado” e “Rosário dos Pretos” que foram gravadas e mixadas por André Cabelo no Estúdio Engenho, e “Tambores”, gravada por Jeremias Straitjer no Estúdio Chita.
Produção musical: Sérgio Pererê

Se vc gostou adquiri o original valorize a obra do artista.
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