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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

DEIA TRANCOSO - TUM TUM TUM




Flor ao sol
Sempre que escuto Déa Trancoso me lembro de Guimarães Rosa. Ela tem patente para cantar o sertão. E não é a memória do Rosa de Grande sertão: veredas que me ocorre primeiro, mas de O recado do morro, novela encantada que faz parte de seu Corpo de baile. Na estória, uma mensagem vai sendo retransmitida de maneira tortuosa, prevenindo e salvando a vida da personagem, enquanto uma canção vai sendo gestada. O senhor aceite, isso é o sertão, essa mescla de vida, morte, mistério e beleza.
Mas tem outro ingrediente do escritor na música de Déa, que é esse jeito de falar de grandes coisas a partir do que parece miúdo. As pessoas do Vale do Jequitinhonha gostam de pedras – as cidades têm nomes de pedras – e se dedicam a olhar com paciência e sabedoria milhares de cascalhos que correm pela bateia para enxergar uma areia que tenha luz por dentro.
Déa é cantora, nasceu em Almenara, está completando 25 anos de carreira e tem quatro discos. Com essas poucas balizas, quase uma bússola, estão contidos o Norte, o Sul, o Leste e o Oeste de Déa. Ofício, raiz, pertinácia e cuidado. Ela só canta o que deve ser cantado, traz em sua arte todas as emanações de sua terra, escolheu devotadamente seguir adiante em sua tarefa e nunca teve pressa que lhe fizesse atropelar a beleza e a responsabilidade com o destino de artista.

João Paulo Cunha
Editor do Caderno de Cultura
Jornal Estado de Minas

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