Em meados da década de 1970, Caetano Veloso declarou que a melhor música
brasileira era feita em Minas Gerais. Ele se referia à qualidade das
composições de Milton Nascimento e seus parceiros do Clube da Esquina.
Na mesma época, um grupo dedicado à MPB despontava na cena
belo-horizontina. No livro “Grupo Mambembe – pequena história que virou
canção”, o compositor Toninho Camargos resgata esse importante capítulo
da nossa história musical.
Viabilizado pelo sistema de financiamento coletivo por meio do
site Catarse.me, o projeto inclui um CD que reproduz boa parte do
repertório do LP lançado pelo Mambembe, em 1981. A publicação é uma
parceria das editoras Recanto das Letras e Mundo Produções e recebe o
apoio da Secretaria de Estado de Cultura.
Entre sambas, choros e maxixes, destacou-se no repertório do
Mambembe a canção “Rio Araguaia”, de Cadinho Faria e Toninho Camargos.
De maneira lírica e metafórica, a música que já mereceu várias gravações
referia-se à guerrilha do Araguaia em tempos ainda vigiados pela
censura do governo militar. Além dos dois compositores, o grupo lançou a
cantora Titane, o flautista Miguel Queiroz e colocou nos palcos pela
primeira vez o baterista Lincoln Cheib.
Como o próprio Toninho recorda, fizeram parte do grupos músicos Aldo
Fernandes, Alysson Lima, Antônio Martins, Cláudia Sampaio Costa,
Eduardo Amaral, Edson Aquino, Hermínio de Almeida Filho, Lina Amaral,
Luiz Henrique de Faria, Marcílio Diniz, Murilo Albernaz, Paulinho
Mattar e Rogério Leonel. A produção era feita por José Maria Caiafa.
Quando o LP do grupo foi lançado, o compositor Fernando Brant
declarou: “a gente tem mais é que olhar com carinho para esta rapaziada
do Mambembe, gente jovem que enfrenta com coragem as barras da vida.
Seja na diária luta cultural e política, na compreensão dos problemas
que acorrentam nosso povo, seja no gesto alegre de cantar suas coisas, a
sua verdade”.
Décadas depois, o produtor e agitador cultural Afonso Borges
aponta o pioneirismo do grupo, que “foi fundador de uma política de
atuação cultural formadora de uma geração em Belo Horizonte, entre 1972 e
1985. Seus integrantes (...) souberam construir, com uma música de
altíssima qualidade, uma aliança entre música e política que foi
repetida por muitos”.
Confira entrevista com Toninho Camargos:
Qual o seu objetivo com esse livro e esse CD?
- De forma geral, o projeto procura resgatar a
trajetória, o caminho e a linha de trabalho do Grupo Mambembe de música
popular, que atuou a partir de Minas, nas décadas 1970/1980, alcançando
um destaque importante. Ao mesmo tempo, o livro procura levantar
aspectos conjunturais da música daquele período, de modo que pode
tornar-se um instrumento de reflexão sobre o desenvolvimento da prática
musical em Minas Gerais.
Como você avalia a trajetória do Mambembe tantos anos depois?
- A elaboração do texto exigiu trabalho de pesquisa, que
muito me surpreendeu, porque eu já não me lembrava de muita coisa
daquela época. Como toda formação jovem da música, o Mambembe surgiu
atuando em busca da profissionalização, mas com uma linha de ação
definida. O grupo tinha o que falar com sua canção e procurava conhecer
sobre o que estava falando. Atuamos numa época da ditadura e procuramos
contribuir com o amplo movimento pelas liberdades democráticas e pela
volta da democracia. Pelo reconhecimento de público (regional) que
alcançamos, podemos dizer que fomos bem sucedidos.
Entre todas aquelas músicas cantadas ou gravadas
pelo grupo, quais você acha que ficaram ou que ficarão como testemunho
de uma época?
- A maior parte do repertório do Mambembe, músicas de
alguns de seus integrantes como Cadinho Faria, Murilo Albernaz, Edson
Aquino, Antônio Martins, dentre outros nos quais me incluo, continua
inédita. Gravar disco naquela época era missão quase impossível,
exclusividade das grandes gravadoras. Assim mesmo o Mambembe fez o seu
disco independente. No CD que lançamos paralelamente ao livro, reunimos
parte do trabalho realizado em estúdio para integrar, na época, algum
disco de vinil. E também gravações de shows realizadas sem qualquer
pretensão profissional. Com a restauração sonora de alta qualidade,
puderam ser incluídas no trabalho. Nossa música mais conhecida, sem
dúvida, é “Rio Araguaia”, que assino com o Cadinho Faria, nosso
compositor de maior destaque.
Se estivesse surgindo hoje, o Mambembe teria espaço de atuação na cena musical brasileira e por consequência na mídia?
- Hoje a realidade é outra. Para se ter ideia, quando o
Mambembe começou, e em 1974, havia quase seis anos que nada acontecia.
Vivíamos um marasmo cultural tremendo por causa do AI-5. E o grupo
surgiu junto com um movimento musical mineiro – despontaram dezenas de
bandas mais ou menos no mesmo tempo, que buscavam viver de música sem
ter que sair de BH ou Minas. Foi uma batalha coletiva bonita e
emocionante, mas que também iniciava o processo de shows intimistas,
apresentações em teatro, que não eram usuais antes. O Movimento
Estudantil e o Circuito Universitário foram fundamentais para a promoção
cultural e artística na época. Foi um processo de construção. Apesar
das dificuldades encontradas pelos músicos de hoje, é tudo mais fácil,
tudo mais viável.
Como você avalia a produção musical contemporânea?
- Estamos num processo evolutivo, cíclico, que acompanha o
processo político e econômico. Pode haver retrocessos temporários, mas
de modo geral tudo evoluiu e muito. A música popular em Minas hoje é
formada por músicos de alto gabarito, músicos que tiveram a oportunidade
de estudar formalmente a matéria – muitos deles completaram o ensino
superior musical. São instrumentistas de gabarito. Também despontam
grandes compositores do que a gente chamava MPB, ótimos melodistas,
ótimos letristas e excelentes trabalhos vocais.
Qual a receita para a cultura nacional voltar a ter espaço na escola e na mídia?
- Esse é o maior problema de todos, em todos os tempos.
Quanto mais a mídia se profissionalizou, mais ela reduziu o espaço da
arte, especialmente da música. À mídia, hoje, não interessa apresentar a
diversidade da música brasileira. Esta diversidade está disponível sim,
na Internet, de forma dispersa, mas está lá. Hoje o número de
lançamentos de CD independentes ou de pequenas produtoras supera em
muito o de lançamentos das poucas grandes gravadoras. Superam em números
absolutos, em qualidade artística e em diversidade cultural. Só não
superam em número de vendas. A mídia e a indústria fonográfica detêm
esse controle.
*texto extraído http://www.cultura.mg.gov.br
Se vc gostou adquira o original valorize a obra do artista.
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CANTO SAGRADO
"SOU DA TERRA DO OURO, DAS SERRAS AZUIS,DOS CAMPOS GERAIS, SOU DO MUNDO, SOU MINAS GERAIS"
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terça-feira, 25 de fevereiro de 2020
terça-feira, 4 de fevereiro de 2020
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