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José
Ramiro Sobrinho, o Pena Branca, nasceu em Igarapava, no interior do
estado de São Paulo, no dia 04 de setembro de 1939 e faleceu em São
Paulo/SP, aos 70 anos, no dia 08 de fevereiro de 2010; e Ranulfo Ramiro
da Silva, o Xavantinho, nasceu em Cruzeiro dos Peixotos, Distrito de
Uberlândia, no estado de Minas Gerais, em 26 de dezembro de 1942 e
faleceu em São Paulo aos 56 anos, em 08 de outubro de 1999. Criados na
região de Uberlândia no Triângulo Mineiro, eram filhos de Dolores Maria
de Jesus, (a "Coitinha" como era carinhosamente conhecida), que lavava
roupa para fora, e de Francisco da Silva, que trabalhava numa pequena
lavoura que possuía e também criava algumas cabeças de gado em terreno
arrendado.
Dona "Coitinha" cantava com seu Francisco que também tocava
cavaquinho. Além de cantar, ela também marcava o ritmo com instrumentos
de percussão que improvisava com cabaças de porongo e colheres de pau.
Assim foi o primeiro contato musical dos meninos que aprenderam os
primeiros acordes musicais no cavaquinho do seu Francisco, que faleceu
repentinamente em 1950 quando José Ramiro e Ranulfo tinham apenas 11 e 8
anos respectivamente.
Sendo o primogênito, Pena Branca teve que assumir a
responsabilidade do sustento da família. Dona "Coitinha" continuava com
as improvisações dos instrumentos musicais, tendo inclusive
confeccionado uma viola feita de cabaça de porongo e sandálias velhas,
cujas tiras de couro foram cortadas em fios finíssimos e fizeram a vez
das cordas! E era ela quem mais queria que os meninos tentassem uma
carreira artística, já que considerava a música como sendo a libertação
daquele trabalho rude e que seguia um sistema praticamente escravocrata.
Em 1953, durante a entressafra, José Ramiro foi trabalhar em
Ituiutaba/MG como carregador nos frigoríficos e armazéns. Foi nessa
época que comprou sua primeira viola e formou com Zé Pretinho a dupla
"Zé Miranda e João do Campo". E, quando voltava a época da safra, José
Ramiro voltava pra casa e continuava o trabalho nas fazendas, onde nas
horas de folga ensaiava com o irmão Ranulfo. Nesse trabalho, José Ramiro
e Ranulfo não recebiam dinheiro, e sim "ordens de pagamento" ao armazém
de secos e molhados da localidade.
Melhorando com o tempo o desempenho, começaram a participar
de Folias de Reis, quermesses e bailes. Eram comuns também os mutirões
em finais de semana, os quais sempre acabavam numa comemoração com
comida, bebida, música e dança. E os dois irmãos animavam a festa.
Três anos depois desfez-se a parceria com Zé Pretinho. José
Ramiro e Ranulfo continuavam os ensaios freqüentes, e começaram a
desenvolver os estilos inspirados nas duplas caipiras da época. José
Ramiro tocando uma viola de craveia e Ranulfo tocando um velho violão
emprestado de um amigo. E já se apresentavam em clubes onde muitas vezes
os palcos eram formados por mesas reunidas.
Em 1958, quando participaram do programa do Coronel Hipopota
na Rádio Educadora de Uberlândia, o locutor cismou que "José e Ranulfo"
(como eles se denominavam) não era nome de dupla. Contra a vontade dos
dois irmãos, anunciou no microfone da emissora a dupla "Peroba e
Jatobá". José e Ranulfo não gostaram do nome, apesar da insistência do
Coronel Hipopota. Na apresentação seguinte adotaram os nomes de "Barcelo
e Barcelinho". Não satisteitos, mudaram o nome para "Xavante e
Xavantinho", lembrando das aulas de História na escola primária, e
homenageando também o índio brasileiro. Na época, os irmãos continuavam
trabalhando como carregadores, o que possibilitou a compra de novas
violas. Eles se apresentavam em todos os lugares, e não recusavam nenhum
convite. Ranulfo, o Xavantinho, também começou nessa época a escrever
as suas primeiras letras.
Com o sanfoneiro Pinagi formaram o "Trio Pena Branca", que
em 1964 se apresentava em pequenas cidades do interior goiano. Seu
estilo era influenciado diretamente por Vieira e Vieirinha, e também por
Pedro Bento e Zé da Estrada, e "Serrinha e Ramón Perez". No repertório,
canções típicas da zona rural mineira, polcas paraguaias, folclore
boliviano e toadas mexicanas. Desfez-se mais tarde o trio, porém os
irmãos "Xavante e Xavantinho" continuaram a se apresentar, e
concentraram seu trabalho entre o Triângulo Mineiro e a região
Centro-Oeste do Brasil.
E, mais uma vez, tiveram que trocar de nome, pois havia
aparecido um cantor de nome artístico Xavante, que formava um trio com
Taquari e Otavinho e passara a exigir dinheiro para utilização do seu
nome pela dupla "Xavante e Xavantinho". Desta vez então, os irmãos José e
Ranulfo aproveitaram o nome do trio que haviam formado antes com
Pinagi, o "Trio Pena Branca" e, a partir de então, José Ramiro passou a
ser o Pena Branca, e Ranulfo, o Xavantinho, ficando dupla com o nome
consagrado que chegou até nós, a despeito das descrenças do Coronel
Hipopota que insistia em "Peroba e Jatobá" e afirmava também que com
aquele "constante troca-troca" de nomes, a dupla não faria sucesso,
embora soubessem cantar muito bem! Aliás, o nome definitivo da dupla
nasceu já na capital paulista.
E na dupla, Xavantinho tocava o violão enquanto seu irmão
Pena Branca sempre foi o responsável pelo som da viola caipira.
E o destino parecia estar traçado: em 1968, Ramiro e um
motorista da transportadora na qual trabalhavam tiveram que ir recuperar
a carga de um caminhão que estava a caminho de São Paulo/SP e que havia
caído em uma ribanceira no canal de São Simão no estado de Goiás. Ao
término do trabalho, Xavantinho decidiu pedir carona e seguir junto com o
caminhão usado no socorro, rumo à São Paulo, apenas com a cara e a
coragem, e a roupa suja de lama no corpo, sem sequer avisar previamente a
família... E prometeu ao irmão Pena Branca: "Mano, um dia vou tirar
você daí".
Na Capital Bandeirante continuou trabalhando na filial da
mesma transportadora, onde foi promovido a entregador de encomendas.
Prosseguia com os ensaios nas horas de folga. Algum tempo depois, Pena
Branca também foi para junto do irmão, chamado por ele através de uma
carta, e passou a trabalhar na mesma empresa de transporte como
conferente de carga. Os dois moravam na pensão da Dona Judite no bairro
do Canindé.
E começaram a se apresentar em São Paulo/SP. Em 1969,
integraram o grupo de músicos do "Rei do Laço", que era um clube de
divulgação da música caipira, freqüentado por figuras importantes do
meio, como os famosos e respeitados Tonico e Tinoco, e também a dupla,
na época iniciante, Milionário e José Rico.
Em 1970 conquistaram o quarto lugar num festival promovido
pela Rádio Cometa e foram convidados a participar da gravação de um
compacto, com a música vitoriosa, "Saudade". Foi inclusive na hora de
receber esse prêmio que apareceu o cantor de nome artístico Xavante, que
quis inclusive vender o nome para José e Ranulfo que não quiseram.
Subiram então no palco e anunciaram que, a partir daquele instante, eles
eram "Pena Branca e Xavantinho".
Em 1975, passaram a integrar a Orquestra "Coração de Viola",
em Guarulhos/SP. Inezita Barroso, num belo dia, estava ensaiando com
essa orquestra e percebeu o potencial de Pena Branca e Xavantinho:
"Meninos, vocês têm um grande futuro, mas vocês só acontecerão se saírem
daqui". Também a Dupla Coração do Brasil, Tonico e Tinoco, foi fazer um
show em Barretos/SP e perceberam o valor de José e Ranulfo. No mesmo
ano ainda, "Pena Branca e Xavantinho" foram contratados para se
apresentar na Basílica de Aparecida do Norte, nos finais de semana, num
coreto montado junto à ferrovia. Os shows eram produzidos por Roberto de
Oliveira, irmão de Renato Teixeira.
Em 1979, o mesmo empresário Roberto de Oliveira, da
gravadora WEA, procurava talentos para integrar o projeto do Selo
Rodeio, um selo específico para músicas regionais. E veio o convite para
um teste de estúdio após uma apresentação da dupla em Aparecida do
Norte. Houve, porém um desencontro e quando chegaram ao estúdio, foram
informados de que Roberto havia viajado a negócios. O funcionário que os
atendeu recebeu muito negativamente a música "Que Terreiro é Esse?". de
autoria de Xavantinho, e detestou mais ainda as outras músicas que eles
apresentaram. Nada foi feito e o funcionário aconselhou aos dois irmãos
que pegassem a viola e fossem pra casa ensaiar outras coisas, mudar o
repertório.
No ano seguinte, em 1980, seguiram o conselho de Roberto de
Oliveira e se inscreveram no Festival MPB Shell daquele ano, com a
música "Que Terreiro é Esse?", a mesma que havia sido ridicularizada
pelo funcionário da WEA. Na apresentação, no Maracanãzinho no Rio de
Janeiro, interpretaram a música acompanhados de 16 Violeiros da
Orquestra de Guarulhos mais um grupo de percussionistas. A platéia
acompanhou com palmas, e a música foi classificada para as finais.
Durante o Festival, conheceram Renato Teixeira, Almir Sater, Diana
Pequeno, e muitas outras feras da MPB com as quais criariam laços
permanentes e importantíssimos.
Roberto de Oliveira, por outro lado, ficou surpreso quando
soube da recusa do funcionário da gravadora, que, de acordo com o
empresário, teria sido um total descumprimento de suas orientações. E,
para reparar o incidente o mais rápido possível, providenciou o
lançamento do primeiro LP de Pena Branca e Xavantinho: "Velha Morada",
incluindo a música que havia sido refugada: "Que Terreiro é Esse?". No
entanto, foi outra música a que mais chamou a atenção da crítica e do
meio musical: "Cio da Terra", de autoria de Chico Buarque e Milton
Nascimento.
E começaram os convites para programas de TV. O primeiro
veio de Rolando Boldrin, que chamou os irmãos para a estréia do Programa
"Som Brasil" na Rede Globo em 1981.
Em 1982, gravaram o segundo disco, "Uma Dupla Brasileira", o
qual foi produzido por Rolando Boldrin, e começaram a viajar pelo
Brasil, dentro do projeto "Som do Brasil". Durante este período,
assimilaram também novos ritmos, incorporando-os ao seu estilo musical.
O terceiro disco, "Cio da Terra", só veio cinco anos depois,
em 1987, na Continental, e desta vez derrubando todas as barreiras
entre música caipira e urbana", consagrando o harmonioso casamento de
estilo de nossa boa música brasileira. Gravaram Luiz Gonzaga, Lupicínio
Rodrigues, Tavinho Moura e Wagner Tiso, sempre com versões inovadoras.
Em 1988, o LP e CD "Canto Violeiro", contou com a
participação de Fagner, Tião Carreiro, Almir Sater e Oswaldinho do
Acordeon.
O disco seguinte, "Cantadô de Mundo Afora", conquistou o
prêmio Sharp de 1990 como sendo Melhor Disco, Melhor Dupla e Melhor
Música ("Casa de Barro").
Em 1992, novo prêmio Sharp de melhor disco, conquistaram
desta vez com o CD "Ao Vivo em Tatuí", junto com Renato Teixeira, e que
foi produzido por Mário de Aratanha e Leo Stinghen; também conquistou o
prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) na categoria de
melhor disco. E, com este trabalho, conquistariam em 1999, seu primeiro
Disco de Ouro, recebido no programa Viola, Minha Viola, da TV Cultura
de São Paulo.
O CD "Violas e Canções" foi lançado em 1993, com toadas, batuques e Folias de Reis.
Em 1995, Pena Branca e Xavantinho gravaram na Velas o CD
"Ribeirão Encheu", produzido por Tavinho Moura e Geraldo Vianna, e em
1996, gravaram também na gravadora Velas, o CD "Pingo D’Água", produção e
direção musical de Kapenga Ventura, com vários sucessos tradicionais do
gênero caipira raiz e também da MPB.
Em maio de 1997 conquistaram novo Prêmio Sharp na categoria
Melhor Dupla Sertaneja, tendo concorrido com Chitãozinho e Xororó e João
Mulato e Pardinho. O último trabalho discográfico da dupla foi o CD
"Coração Matuto", lançado em 1998 pela gravadora Paradoxx, novamente
produção e arranjos por Kapenga Ventura.
No entanto, Xavantinho, que havia sido internado por
problemas respiratórios no Hospital Nipo-Brasileiro em São Paulo,
faleceu no início da tarde do dia 8 de Outubro de 1999, aos 56 anos, de
insuficiência respiratória e falência múltipla dos órgãos.
Pouco tempo depois do falecimento do Xavantinho, Pena Branca
lançou pela gravadora Kuarup dois excelentes CD's: "Semente Caipira" e
"Pena Branca Canta Xavantinho". "Semente Caipira" foi vencedor do
"Grammy Latino 2001".
Pena Branca se apresentou durante alguns anos com o Grupo
"Viola de Nóis", formado por Tarcísio (voz e violão), Rogério Motta
(violão de cordas de aço), Christiano (acordeon), Márcio Bonesso
(contra-baixo), Dedé Aires e Alex Mororó (Percussão) (o mesmo Grupo
Musical que antes era denominado Grupo "Mano Véio") e, com esse
conjunto, Pena Branca lançou o terceiro CD após o falecimento do irmão
Xavantinho.
Pena Branca também gravou em 2006 o CD "Sertão Violeiro",
junto com o Grupo "Viola de Nóis", produzido por Tarcísio Manuvéi,
Rogério Mota e Alex Mororó, gravado pela Bequadro Áudio.
Em 2008, Pena Branca gravou o seu último CD intitulado "Cantar Caipira".
Pena Branca faleceu aos 70 anos de idade, no início da noite de 08 de
fevereiro de 2010, após sofrer um infarto em sua residência no bairro
paulistano do Jaçanã.
Tendo passado mal em sua casa, Pena Branca foi conduzido às
pressas pela esposa Maria de Lourdes e por sua vizinha para o
Pronto-Socorro do São Luiz Gonzaga (PS Jaçanã), onde faleceu às 18h10.
Para Pena Branca, que nunca havia apresentado nenhum sinal
de problemas no coração, esse dia havia transcorrido dentro da
normalidade em sua casa, onde ele tinha inclusive tocado algumas músicas
em sua viola. Foi um enfarte fulminante que levou Pena Branca ao
reencontro com seu irmão Xavantinho...
Seu corpo foi sepultado no Cemitério Parque dos Pinheiros, próximo à Rodovia Fernão Dias.
Texto: Sandra Cristina Peripato
Devido a vários pedidos o Canto Sagrado elaborou uma coletânea da discografia da dupla a gosto pessoal com 50 verdadeiras obras primas na voz de uma das melhores duplas da musica caipira de raiz.
Espero agradar a todos.
Se gostar adquira seus discos originais valorize a obra do artista.
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CANTO SAGRADO