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segunda-feira, 19 de agosto de 2019

LÉO NASCIMENTO - UM BREVE ADEUS A SOLIDÃO


Antes de ser a nova capital, Belo Horizonte era um grande vale entre serras onde se imaginou uma cidade planejada que embalava sonhos de modernização e industrialização. O projeto lembrava um tabuleiro de xadrez, em tudo diferente das curvas sinuosas e meio labirínticas das cidades coloniais mineiras.
Por muito tempo, BH foi conhecida como “a cidade das esquinas” e foi em seus inúmeros cruzamentos entre ruas e avenidas que se desenvolveu uma cultura do encontro, tão bem atualizada na consideração de que esta é “a capital nacional dos botecos”.
Vivendo em BH desde 2005, quando veio para estudar Filosofia, Leo Assunção tem sua carreira marcada pelos encontros. Filho de Bom Despacho, cidade de 50 mil habitantes a 150 km da capital, Leo trouxe consigo um violão e uma relação com o instrumento que vem da infância, quando começou a tocar. Aos 18 anos encontrou em Belo Horizonte um ambiente mais adequado para se desenvolver como artista, conheceu pessoas que o ajudaram nessa caminhada e abraçou as oportunidades que apareceram.
Morar na capital representou, antes de tudo, um alívio. O interior de Minas está presente no espírito dessa cidade, mas viver aqui permite um distanciamento que revela uma matriz muito conservadora. BH não se liberta disso, mas é o meio do caminho, parada quase obrigatória, ponto de ressignificação da vida interiorana. Assunção estudou, cresceu e virou artista, mas ainda preserva o sotaque, um sentimento de desconfiança em relação a tudo e a vontade de sempre estar em outro lugar.
Leo foi um dos fundadores do Projeto Saravá, coletivo de músicos que se debruçou sobre um caldeirão que misturava o trabalho autoral de seus membros e a releitura de clássicos como Pixinguinha, Waldir Azevedo, Jackson do Pandeiro, Tom Zé e Cartola.
No radar do grupo estavam samba, afoxé, embolada, frevo, baião e maracatu, além de muitas outras referências que compunham essa teia rica e abrangente. O saldo dessa experiência foi desfazer cada um desses rótulos em prol de uma síntese da música brasileira, pensada enquanto música universal. O processo de re-atar as pontas entre o que motiva a composição e a música, para além dos gêneros e para além da nacionalidade, desfaz a necessidade e a validade dos rótulos:
“O Hermeto Pascoal classifica a música dele como ‘música universal’. Partindo do pressuposto de que a composição está intimamente ligada ao que estamos ouvindo e que hoje em dia é fácil ter acesso a uma infinidade de músicas de diferentes culturas e de diferentes épocas, é possível que minha música tenha influência de povos sobre os quais não sei nada. A gente tem necessidade de dar nome às coisas, classificar, dividir em categorias, comparar. Acredito que, ao negar o rótulo, o músico quer dizer que a música é tão poderosa que ela não cabe nisso”
É aí que Assunção firmou o seu pé, amarrado ao seu violão, passeando nas avenidas abertas pela música brasileira. De cada esquina ele trouxe um elemento: do Projeto Saravá ficou a multiplicidade dos interesses, da Filosofia vem o olhar metódico e a organização das ideias, da experiência de cantar nos botecos ele mantém o prazer na relação com o público, e da vivência como professor de violão guarda a curiosidade de continuar estudando e aprendendo. Tudo isso é o que se vê no seu primeiro álbum, que acaba de ser lançado.

Um breve adeus à solidão

Esse é o título do álbum que reúne as composições e as experiências de toda essa trajetória. Tentando definir em uma frase, Leo diz que o álbum é “uma subida à superfície para respirar”. Em todos os rascunhos de explicação aparece uma tensão entre o adeus – definitivo, solene e pesado – e a brevidade que torna tudo mais leve, entre a densidade da falta de ar e a sensação de alívio ao chegar à superfície.
Seu álbum de estreia parece um reflexo da maneira como ele conjuga razão e sensibilidade, dialogando com as facetas mais luminosas da MPB e com uma melancolia que lembra a origem do samba e os versos de Vinicius de Moraes: “Porque o samba é a tristeza que balança / E a tristeza tem sempre uma esperança / De um dia não ser mais triste, não”.
Uma das faixas do álbum faz homenagem ao grande Belchior, composta quando ele ainda era vivo e se refugiava da vida que queriam que ele vivesse. “Carta para Belchior” se vale de versos do compositor cearense para dizer a ele que fique bem, e faça da sua vida o que quiser. Nas outras faixas, o cotidiano segue seu fluxo entre idas e vindas, chegadas e partidas, reflexões a respeito do tempo e da distância do mar. Sobre o que motiva e orienta sua relação com a música, Leo responde com mais arte:
“Entre o que vou fazendo você perceber, o que quero ser e o que sou, não há abismos… nem profundo é. Eu mesmo nem consegui abrir as cortinas contidas nas entrelinhas que apenas tentam revelar o que eu queria ser parafraseando a querida metáfora que me dói:
– Como ser a pedra e o sapato se a estrada não dá pé?
É o que acontece quando se coloca um espelho na frente do outro… tem um infinito no meu banheiro”
Se você encontrar o Leo tocando por aí, logo nos primeiros acordes e nas primeiras frases você vai perceber que se trata de um mineiro, fazendo música brasileira, mas que o que anima a proposta é a sensação de que uma esquina é uma esquina em qualquer parte, ela sempre abre a possibilidade de novos encontros. Nas entrelinhas do que ele faz parece ter o eco da turma de compositores, também mineiros e também famosos por conta das esquinas e dos encontros, dizendo: “Sou do mundo, sou Minas Gerais”.
*texto extraído -   https://invasoesbarbaras.com.br

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